domingo, 25 de março de 2012

Criança

Acabo de fazer algo que possa me arrepender, pela primeira vez em tantos anos de minha vida, conscientemente atirei os dedos contra uma ferida entreaberta, alarguei o que se fechava, cicatrizava, consciente da dor, da aflição, e pior, do sentimento de repetição. Meus antibióticos vinham funcionando bem, não sentia mais nada, estava dopado e anestesiado.
Porém, maldita curiosidade que me faz checar a ferida, verificar os pontos que o doutor tinha feito com tanto cuidado e esmero, cautelosamente a desenhar na pele, agora eu, como se fosse uma criança inconseqüente e curiosa, meto as mãos cheias de dedos e começo a mexer, e a cada vez mais que mexo, mais feio vai ficando e percebo que as unhas carregam consigo um bolor negro, provavelmente carregada de vermes e bactérias, prontos a fazer a ferida inflamar... antibióticos dessa vez podem não ser a solução, achei que aquele meio termo em que tentei refazer o fluxo sanguíneos e a amputação tivesse resolvido, mas agora, como um menino buliçoso não sei não, terei que fazer uma verdadeira amputação.
Criança... voltaste a ser criança, menino inconseqüente, que não sabe distinguir o que pode e o que não pode, ficas ai agora a lamentar e a chorar, caso a ferida volte a se abrir e a dor passe a ser insuportável. Mas não te preocupas criança, há sempre uma solução.

08/11/2011

3 comentários:

Coisas da nossa mente. disse...

Interessante, ferida de amor? ;*

Hermogenes Batista Filho disse...

Sim, inspirado numa ferida de amor.

Mila Medeiros disse...

um belo texto .. engraçado como certas pessoas tem o poder de serem tão claras e ao mesmo tempo de dar um sentido "subentendido" ao que diz claramente... um belo texto